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A importância da família

Publicado 30 Jun 2016 – 08:14 PM EDT | Atualizado 2 Abr 2018 – 01:38 PM EDT
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É fato que a estrutura familiar sofreu mudanças ao longo dos tempos. Aliás, estranho seria não ter sofrido, uma vez que esta acompanha as mudanças da sociedade. Contudo, independentemente dessas transformações, a questão que pretendo abordar refere-se à importância da família - considerando suas diferentes configurações - no desenvolvimento da maturidade emocional dos filhos.


Podemos entender maturidade emocional como a capacidade do sujeito de conhecer suas próprias limitações e potencialidades e, assim, interagir com o meio e os outros de maneira saudável. Vale ressaltar que a maturidade emocional não é conquista só dos adultos. A cada fase, é necessário que o sujeito seja emocionalmente maduro para dar conta de seus desafios. Cabe então a seguinte questão: seria possível atingir a maturidade emocional fora do contexto familiar?

É importante perceber que a criança pode (e deve) encontrar soluções pessoais para suas eventuais dificuldades, longe do domínio dos pais

Para constituir-se emocionalmente maduro, a caminhada do indivíduo começa desde o início de sua vida, quando ainda bebê e sujeito a uma dependência quase absoluta, até a gradativamente evolução para a conquista da independência. Quando bebê, os cuidados ficam concentrados na figura da mãe. À medida que o bebê cresce, esse cuidado materno expande-se para ambos os pais, que, juntos, assumem a responsabilidade sobre o filho. Esse processo de "expansão" continua e incluem-se os irmãos (caso haja), até a entrada dos avós, tios, primos e outros indivíduos que, por sua proximidade, são considerados parentes.


Assim, como no movimento gerado na água quando jogamos uma pedra num lago, que vai formando sucessivas e ampliadas ondas circulares, o ser humano tem a necessidade de ampliar seu círculo de relações, inserindo-se em novos contextos, de forma gradativa. Porém, da mesma forma como as "ondas" são formadas em torno da pedra (que desencadeou o movimento), tendo-a, portanto, como referência, os novos círculos sociais buscados pelo sujeito têm o colo materno como referência, ou seja, ele busca o acolhimento e os cuidados que lhe são conhecidos.


A família nuclear é a instituição mais apropriada para dar continuidade à tarefa da mãe de atender as necessidades do indivíduo, uma vez que nela estão contidos o amor e a responsabilidade inerentes à sua condição. Falemos agora, então, que necessidades e tarefa são estas. As necessidades do sujeito consistem em, justamente, transitar entre a dependência (estar junto da família) e a independência (buscar novos grupos), pois é nesse movimento que o indivíduo é capaz de crescer e se desenvolver de maneira saudável. E a tarefa da família? É, não só suportar, como estar disponível e aceitar a rebeldia própria pela busca da independência, assim como as recaídas de dependência.


Pode parecer tarefa fácil. Mas, talvez, não seja tão simples assim, caso a família não esteja preparada para viver os momentos em que seus filhos têm a necessidade de se afastarem. Isso porque, ao contrário dos momentos de dependência, em que a família tem a sensação de controle, a necessidade do filho de se afastar pode gerar nos pais angústia e sensação de impotência, diante da impossibilidade de controle.

Para clarificar, vamos pensar em algumas situações que podem acontecer comumente: a criança quer passar o dia ou dormir na casa de um amiguinho. Nesse momento, quais fantasias passam por sua cabeça? Meu filho é muito pequeno, precisa de cuidados que só eu posso dar; mas ele só dorme se eu cantar para ele; será que vai comer direitinho? E se ele chorar sentindo minha falta? Esses são alguns exemplos de dúvidas e questionamentos que podem transformar-se em impedidores para permitir essa rica experiência para o filho.


Outra situação típica é o momento da adaptação escolar, quando não é raro observar, em alguns momentos, é mais difícil para os pais que para os filhos. É importante perceber que a criança pode (e deve) encontrar soluções pessoais para suas eventuais dificuldades, longe do domínio dos pais. Essa descoberta influencia positivamente em sua segurança e confiança em si mesma. O que não significa dizer que a criança não precise dos pais. Está apenas exercitando o movimento natural de transitar por esta via da dependência e independência. Com isso, descobrindo seus limites e possibilidades, sem nunca deixar de ter a família como referência . O acolhimento e aceitação são fundamentais nesse momento. Mas não podemos esquecer, no entanto, que aceitar e acolher não quer dizer perder a autoridade, isto é, alargar os limites para além das possibilidades da criança.


A família é essencial na conquista da maturidade emocional do filho, pois só ela pode proporcionar um caminho de transição entre os cuidados dos pais e a vida social. Sua função é oferecer o colo como espaço simbólico para saída e regresso, bem como a contenção necessária para que este desenvolvimento aconteça de maneira saudável.

Márcia Mattos é psicopedagoga e pedagoga do Apprendere Espaço Psicopedagógico.

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